Hoje é uma data propícia para
escrever. Faz exatamente dois meses que estou de retorno ao Chile. Muita coisa
aconteceu e o tempo voou, como sempre. É estranho que quando estamos vivendo
uma parte boa da nossa vida as coisas passam tão rápido. É quando nos damos
conta de que o tempo é incontrolável. O tempo suga as nossas experiências e nos
brinda com lembranças... Espero que minha vida seja apenas um borrão por este
mundo; apenas fumaça dando sinal de que algo por ali aconteceu. Algo bom. Às
vezes é bom parar pra refletir e se dar conta de que muito em breve seremos
todos lembrança. Alguns serão recordações eternas, gravadas em livros,
fotografias e memórias; outros deixarão de existir assim que o último a se
lembrar dele se vá dessa para melhor. Não me importo muito com o que serei
desde que seja um “borrão” de momentos únicos e especiais.
Algumas pessoas me
perguntaram por que eu não estava mais escrevendo. Esta não era uma constatação
verídica, já que o ano de 2015 tem sido de extrema inspiração para mim. Escrevo
sim, só não ando publicando no meu blog. Eu nunca quis que o “Universo em
Expansão” se tornasse uma obrigação, por tanto nunca me forcei a publicações
periódicas. Simplesmente publico quando sinto necessidade de ser escutado,
quando preciso que alguém veja o que tenho feito e o que tenho descoberto. Como
disse no começo deste texto, foram dois meses em que muitas coisas aconteceram.
A saudade da pátria é
inevitável. Eu sou um apaixonado pelo Brasil e toda vez que me afasto de lá me
sinto órfão. Uma necessidade nova nasce dentro do meu peito e eu passo a ouvir
bossa nova como louco. Procuro referências brasileiras em tudo que vejo, leio e
escuto. Esses dois meses de “exílio” me apresentaram artistas que estavam tão
perto quando estava em Londrina, que não dava muito atenção. Chico Buarque tem
sido o meu cantor, compositor e escritor brasileiro favorito desde o ano
passado, mas junto com ele descobri Ney Matogrosso e sua excentricidade; Maysa
e sua voz única; Caetano e sua alma apaixonada; Carmen Miranda e seu sorriso
extremamente brasileiro. Que cultura linda! Que país incrível! Entristeço-me
com as notícias e com o pessimismo de muitos brasileiros, mas estar longe
significa querer bem, sentir falta e torcer pelo meu país. Esse é outro lado
bom de morar fora: saber o quão bom é o seu lar.
Voltar pra Santiago, desta
vez com um propósito desafiante: trabalhar, foi desde o início uma necessidade.
Minha vida sempre foi pensada até o dia em que eu receberia meu diploma
universitário e tudo estaria bem e perfeito. Não foi bem assim. Desde que
comecei a faculdade de jornalismo eu mudei e essas mudanças me fizeram perceber
que eu precisava de um tempo longe, precisava conhecer um pouco mais além das
minhas fronteiras. O intercâmbio em 2013 me ajudou a confirmar isso, me abriu a
mente e me fez descobrir coisas que eu não sabia que existiam. É estranho
quando você se percebe diferente, quando tudo que você era parece não fazer
sentido e quando o pouco que você tinha já não é suficiente. Entre todos os
motivos que me fizeram decidir voltar para o Chile, acho que o maior deles é
que foi justamente aqui, nessas ruas e nessas paisagens andinas, que eu me
redescobri. Santiago me atrai e eu quero descobrir o que significa essa
atração. Pode ser que essa nova aventura por essas terras não tão longínquas
não durem muito. Podem durar meses, talvez anos. Eu não me coloquei prazo.
Quero apenas viver meus dias de jornalista recém-formado; buscar um emprego que
tenho certeza não irá me satisfazer; juntar dinheiro para propósitos que as
pessoas chamarão de tontos e conhecer gente, conhecer lugares, conhecer novas
miradas e me encantar com o desconhecido.
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Cajón del Maipo, nas imediações de Santiago |
Nesses dois meses por aqui
eu viajei. Viajar é uma paixão que nasceu aqui e que levarei por toda vida.
Voltei para lugares que me marcaram e me transformaram. Vivi aventuras que não
cabem em fotos, textos ou palavras. Se eu fosse descrever esses momentos,
descreveria como um dos borrões mais fortes da minha vida. Eu também comecei
uma nova jornada em busca de emprego e não tem sido fácil. Trabalhar na área em
que me formei por enquanto não será uma realidade, pois ainda não tenho meu
diploma válido em terras chilenas e o processo além de caro é demorado. Tenho
procurado empregos que de certa forma me fariam bem. Eu amaria trabalhar no
meio de livros ou lidando com o cinema, duas artes que me fascinam. Por
enquanto, as coisas têm caminhado e estou esperando que saia meu visto
provisório de trabalho, que deve sair nos próximos quinze dias. Houve também
alguns momentos de tristeza, não vou negar. Sempre gostei de andar por
Santiago, caminhar pelos parques, me sentar e ver o mundo passar. Muitos dias
em que nada me resultava bem eu simplesmente me sentava no Parque Forestal, perto de onde estou morando, observava a pressas
das pessoas e o apuro em chegar onde quer que seja. O tempo sempre comandando
tudo. A melancolia nunca foi um problema pra mim, no entanto, às vezes
incomoda.
Salar Uyuni - Bolívia - Uma das minhas viagens |
Os dias voaram, muitos
momentos passaram e a minha vida tem caminhado bem. Não sei se estou vivendo a minha melhor época, espero que não. Espero que ainda possa pensar
muitas vezes que o tempo voou, ficando apenas histórias, lembranças e
nostalgia. Afinal a vida é como o tempo: um borrão que colore o horizonte de
momentos e no final só resta esquecimento.