terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mochilão Parte 2



 Apesar da demora em escrever essa segunda parte da minha aventura, estou aqui para isso. Nesse texto vou falar sobre Arequipa e Cuzco. Bora lá?

Retomando as rédeas. Tínhamos parado em Arequipa, a cidade dos vulcões.
 Logo quando íamos chegando, de longe já avistávamos o majestoso " Misti". Conhecido como o "Senhor", é um dos três vulcões guardiões de Arequipa,  e o mais chamativo por seu formato de cone. O "Misti" tem relatos de cinco erupções no século XIX, sendo a última em 1870.

Nosso grupo quase completo, e o imponente Misti ao fundo


 Arequipa é segunda maior cidade do Peru. Com seus quase 2 milhões de habitantes, está localizada no meio de um oásis em um vale de montanhas desérticas e é uma referência cultural e histórica do país, recebendo turistas durante todo o ano. 
Um fato sobre o Peru: Se prepare para um país diferente. Você encontrará nas ruas, em um primeiro momento, uma confusão de carros, pedestres e até mesmo animais, mas que para os peruanos faz muito sentido. O país preserva muito bem a sua cultura indígena, tanto que muitos dos nativos ainda falam línguas ancestrais como o quíchua. A cor de pele e os olhos mestiços também evidenciam essa característica marcante.

Enquanto caminhava por Arequipa e conhecia um pouco mais do povo peruano, pude perceber que a população é muito acolhedora. Mesmo com o seu tom tímido, mas que se permite vencer com um sorriso ou um "Gracias", eles fazem de tudo para nos sentirmos em casa. O país é um dos mais encantadores da América Latina,  justamente por sua genuinidade, graciosidade e a suas lindas paisagens que vão desde o deserto até a Amazônia. Machu Piccho é só um bis para os amantes de aventura. 

Nas ruas da segunda maior cidade do Peru, você poderá conhecer a gastronomia e artesanato da população, além da diversidade cultural. O espanhol se mistura com as línguas indígenas; os peruanos e o seu traje típico e colorido; as fotos com as lhamas e o famoso "helado de queso" ( sorvete de queijo) são algumas das atrações da cidade. 

Praça de Armas - Arequipa


Em Arequipa ficamos por dois dias. Nosso albergue era simples. Por sorte o chuveiro esquentava, às vezes, e não tinha internet.. Ele nos custou 17 reais pela noite, e a dona foi muito gentil nos permitindo guardar nossas mochilas enquanto percorríamos.

O albergue em Arequipa


Na cidade vigiada pelos vulcões, fizemos um tour que nos saiu a bagatela de R$7,00. O valor correto era R$30,00, porém, como entramos depois e éramos um grupo de dez, encontramos um homem na rua que nos colocou no ônibus junto a turistas de vários países, por esse preço. 

A peruana oferecia seu pássaro para uma foto, em troca de moedas


Visitamos a famosa "Plaza de Armas" e a sua magnífica catedral, além de uma empresa que faz roupa com a pele de Lhamas. O Yanahuara, uma espécie de charmoso portal que leva inscrito versos de poetas foi meu local favorito. Neste lugar é possível avistar perfeitamente o vale dos vulcões e uma bela extensão verde de Arequipa. O tour valeu muito a pena, porém tivemos que deixá-lo na metade, pois precisávamos partir. 

Poesia no Mural


Os três guardiões e a cidade de Arequipa ficava pra trás, e a famosa Cuzco, o umbigo do mundo, era nosso próximo destino.

Outro fato sobre a nossa viagem: Sempre procurávamos sair de madrugada para economizar estadia. Como já mencionei, optávamos sempre pelo mais barato, portanto os ônibus não eram confortáveis. Muitas pessoas viajavam em pé durante o percorrido, por sorte, não foi o nosso caso.

Ansiosos, mas cansados,  partimos para a antiga capital do império Inca ainda de noite. Essa viagem ficou marcada na minha memória, pois além de pouco dormir, aconteceu um fato que me deixou triste. 

O ônibus levava poucas pessoas. Além de nós, cerca de quatro peruanos e dois alemães que viviam no Peru. A viagem para Cuzco durou  oito horas, e apesar de viajarmos de noite, era possível perceber a péssima condição das estradas e o frio intenso que fazia lá fora. 

Nosso grupo era bem animado. Os chilenos adoram falar e fazer festa, assim como brasileiros, e em vários momento durante a viagem fizemos brincadeiras, cantamos e eles contaram piadas. O clima só ficou pesado, quando em uma parada, o nosso motorista ( que insistiu em colocar um péssimo filme para assistimos ) esqueceu uma das passageiras. A pobre senhora peruana viajava sozinha e desceu correndo para ir ao banheiro quando o veículo parou em um lugar ermo e isolado da estrada. Eu estava dormindo, mas acordei quando meus amigos se perguntavam: " Donde está la señora? Que pasó?". Avisamos o condutor, porém, ele resolveu não voltar para buscá-la, pois " Es muy peligroso volver ahora". Imaginei-me naquela situação: No meio do nada, no escuro, sem dinheiro, frio e sem saber onde estava. Não consegui dormir até chegar a Cuzco.

Minha primeira impressão da cidade não foi muito boa. Talvez por ter sido capital de um império, eu imaginava uma cidade com palácios e ruas majestosas. Mas Cuzco é apenas mais uma cidade em um primeiro momento. Localizada no meio de um vale e rodeada de morros, de longe, as casinhas se parecem até com uma favela, empilhadas umas nas outras no meio das montanhas. Mas, é só se aproximar para perceber o charme dos becos e construções. 


















Logo na rodoviária já fomos muito assediados pelos taxistas e donos de albergues, que chegam a brigar por um cliente. Cada um oferecia um preço e um benefício que o outro não tinha. O valor diminuía muito, e o que já era barato ficava até engraçado. No final optamos por uma senhora que nos ofereceu um valor de R$12,00/pessoa. Ao chegarmos ao local, nos decepcionamos. Teríamos que compartilhar o quarto com outros estrangeiros, e desde o início nós sempre buscávamos ficar juntos. Resolvemos procurar outro lugar, até que encontramos um muito bom, pelo preço de R$14,00/pessoa. O " El Artesano", oferecia banho quente, internet, cozinha além de um porteiro muito simpático que muito nos ajudou.

Um pouco sobre Cuzco ( ou Cusco ): É uma cidade situada no Vale Sagrado dos Incas na região da cordilheira dos Andes. A população é de 300 mil habitantes, e está em uma altitude de 3.400 metros, fato que explica o motivo de nos cansarmos tão rápido ao caminhar pelas ruas da cidade.
O local era a conhecida capital do Império Inca, pra quem não sabe,  foi uma civilização que envolvia culturas pré-colombianas que existiu de 1.200 até a colonização espanhola. Com mais de 700 línguas e abrangendo regiões de Chile, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Colômbia, o Império deixou enormes riquezas arqueológicas e culturais para os países onde existiu.

Caminhar pelas ruas da cidade era um pouco complicado pelo fato do cansaço ser rápido. Não estamos acostumados com altitude,  portanto é bom se prevenir. Os nativos sugerem mastigar a folha da CoCa, que no Peru é liberada, porém eu não necessitei. Apenas tomei um comprimido que custa R$5,00 em qualquer farmácia. É só explicar o motivo que eles sabem qual é.

Durante o dia conhecemos o mercado municipal, no qual tomei um gostoso suco de laranja. O lugar me deixou um pouco receoso para almoçar, já que a carne fica bem exposta, e digamos que não é muito higiênico. Almoçamos frango com batata frita, uma especialidade peruana. Depois que voltamos pro Chile, queríamos passar longe desse prato de tanto que comemos. As refeições variam de absurdos três reais até quinze, vinte, depende do lugar.

Comer no Peru exige um pouco de atenção. A comida é ótima, porém para escolher um restaurante é necessário prestar atenção na forma como eles fazem. Às vezes compensa pagar um pouco mais e evitar uma indigestão. Um fato curioso é que em alguns lugares eles servem o suco quente. Quando eu digo quente, é quente mesmo, fervendo. Segundo uma moradora “é pra espantar o frio”. Vai saber, rs.

A noite em Cuzco é maravilhosa. A agitação noturna dos turistas caminhando pelos becos históricos da cidade; a música típica misturada com as cores dos cachecóis e gorros andinos vendidos pelas lojas e calçadas; a população que te convida a conhecer seu artesanato; e a encantadora "Plaza de Armas" ( toda cidade tem uma por lá ) fazem com que você se apaixone por esse lugar.



Cuzco en la Noche


Em Cuzco aproveitei também pra comprar vários presentinhos. Os valores são melhores em Puno, minha outra parada, porém no " umbigo do mundo" encontrei chaveiros, camisetas, gorrinhos e artigos para presentes. Os valores variam, mas todos barato. Uma camiseta custava em torno de R$6,00, enquanto um chaveiro você pagava três por R$4,00. Vale a pena levar uma recordação.

Depois de andarmos, tirarmos muitas fotos e conhecermos bastante dessa cidade, fomos comprar nossas entradas para Machu Piccho. Antes de tudo, pedimos informações para a polícia peruana. Eles não nos ajudaram muito, mas foram simpáticos.

Na praça de Cuzco, onde fica a bela catedral, é possível encontrar diversas agências que fazem a excursão. Você deve pesquisar preços e ver o que melhor se encaixa no seu bolso. Nós optamos por um pacote que incluía transporte, estadia, jantar e café da manhã ( em Águas Calientes ), guia e a entrada para Machu.  Nosso ingresso com tudo incluso ficou no valor de U$$105,00, em torno de R$230,00. Foi o pacote mais caro da nossa viagem, mas valeu a pena. 



A foto antes da saída pra Machu Piccho

As visitas à cidade perdida estão restritas a certo número de pessoas por dia, desde que se descobriu que o local está cedendo a cada ano, devido ao grande número de visitantes. Machu Piccho foi escolhida como uma das novas sete maravilhas do mundo moderno, e se transformou em um polo turístico. Negociamos com o dono da agência, agendamos para o outro dia nossa partida e ficamos e faltava nos preparar.

Passagens compradas para Machu Piccho, devíamos descansar e curtir um pouco mais de Cuzco. Partimos cedo no dia seguinte para a aventura mais esperada de todas, mas isso fica pro próximo post.