Talvez vocês nunca tenham ouvido falar da " Geração Beat", ou apenas tenham a vaga impressão de ser um grupo de hippies intelectualizados. Mas, vai muito além desse pensamento pejorativo. Comecei a me interessar pelo assunto após conhecer a obra do escritor Jack Kerouac, conhecido como o "pai dos Beats", título que o mesmo rejeitava.
Essa geração de artistas surgiu entre as décadas de 1950 e 1960 especialmente no sul dos Estados Unidos. Os Beats têm influência na música, poesia, e um acervo mais importante na literatura.
Seu modo nômade e despreocupado de entender a vida; sua busca espiritual ( muitas vezes pautada no budismo ); seu grande interesse em viagens e na natureza; seu estilo contra as "normalidades" do sistema; e um pensamento tendencioso ao esquerdista e anárquico contribuíram para que o Beat, juntamente com o movimento hippie, fizessem parte de uma geração maior conhecida como Contracultura.
Seus textos eram uma incessante busca pelo entendimento espiritual e um grau de consciência mais elevado. Muitas vezes os Beats eram caracterizados como "drogados", pois muitos não dispensavam o uso de drogas para alcançar um estado de espírito superior. O sexo não era visto com censura. Não da mesma forma como nossa sociedade está acostumada até nos dias de hoje. Os Beats, portanto, também podem ser considerados expoentes dos movimentos Punk, Feminista e pela busca da igualdade dos homossexuais.
O marco inicial da geração é considerado o poema "Uivo" de Allen Ginsberg ( posteriormente transformado em um excelente filme com James Franco no papel de Allen ). Lido pela primeira vez em 1955 em um bar de São Francisco. A seguir um trecho do poema de Allen:
Allen Ginsberg |
uivo
para Carl Solomon
"Eu vi os
expoentes de minha geração destruídos pela loucura, para Carl Solomon
- morrendo de fome,
histéricos, nus,
- de uma dose violenta de
qualquer coisa,
- celestial com o dínamo
estrelado da maquinaria da noite,
- sentados na
sobrenatural escuridão dos miseráveis aparta-
mentos sem água
quente, flutuando sobre os tetos das
cidades contemplando
jazz,
- anjos
maometanos cambaleando iluminados nos telhados
das casas de cômodos, (..)"
Outro marco da geração são os livros de Jack Kerouac, especialmente o aclamado "On the Road". Nas páginas do livro, Jack narra suas aventuras e viagens com seu amigo Neal Cassady na famosa rota 66, rodovia que atravessa os Estados Unidos de leste a oeste.
Jack Kerouac se transformou em um importante ícone dessa geração pela forma despretensiosa e espontânea de sua narrativa. Os fatos são narradas como realmente ocorreram. Despreocupado com o texto, o franco-canadense escrevia como uma máquina, muitas vezes sem usar parágrafos e vírgulas.
Jack Kerouac |
" On the Road", seu mais famoso livro, demorou um pouco a ser aceito por uma editora justamente por essa despretensão. Kerouac, assim como seus amigos que deram início ao pensamento Beat, usava muitas drogas, entre elas benzedrina e anestésicos. Muitos dos textos do autor foram escritos sob efeito alucinógeno,
Após o sucesso de "On the Road", Jack escreveu também "Os Subterrâneos" e " Vagabundos Iluminados", entre outros. Muitos consideram o último como a obra prima do escritor, que tinha grande influência do americano Jack London.
Mapa da Rota 66 de Jack |
Em 21 de outubro de 1969 Jack Kerouac morre vítima de uma hemorragia decorrente da cirrose. Além de muitos admiradores, Jack deixou uma filosofia de vida que influenciaria artistas como John Lennon, Bob Dylan e bandas como Ramones e Sex Pistols.
"Aqui estão os loucos. Os
desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos
buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles
não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los,
discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que
você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a
raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós
os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para
acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."
Jack Kerouac
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